125 anos de Cinema Brasileiro: 12 filmes nacionais de terror

(Por Ismael Chaves)

Neste dia 19 de junho de 2023, comemora-se 125 anos do Dia do Cinema Brasileiro, data instituída pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Essa data foi escolhida porque no dia 19 de junho de 1898, o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, considerado o primeiro cineasta nacional, filmou a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a partir do navio francês Brèsil.

Desde então, o cinema nacional passou por muitas transformações e revelou diretores e atores que ganharam notoriedade e respeito ao redor do mundo. E quando se trata de horror, nosso cinema não deixa nada a dever para as produções hollywoodianas. A lista é longa, e por isso já peço desculpas pela injustiça ao deixar alguns filmes de fora, mas seguem algumas produções macabras realizadas por nossos cineastas para você conhecer e prestigiar o cinema nacional.

À MEIA NOITE LEVAREI SUA ALMA (1964, dirigido por José Mojica Marins)

Não poderia iniciar essa lista com nenhum outro além daquele é o meu filme de terror favorito de todos os tempos. À Meia-Noite Levarei Sua Alma foi escrito, protagonizado e dirigido pelo saudoso José Mojica Marins e estreou em 1964, surgindo aí aquele que é o personagem mais icônico da história do terror (e por que não do cinema) nacional: o Zé do Caixão. Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Na trama, o cruel e sádico coveiro , temido e odiado pelos moradores de uma cidadezinha do interior, está obcecado em conseguir gerar o filho perfeito, aquele que possa dar continuidade ao seu sangue. A sua mulher não consegue engravidar e ele acredita que a namorada do seu melhor amigo é a mulher ideal que procura. Violada por Zé do Caixão, a moça quer cometer suicídio para regressar do mundo dos mortos e levar a alma daquele que a violou.

O ANJO DA NOITE (1974, dirigido por Walter Hugo Khouri)

Com roteiro de Fernando César Ferreira e do próprio diretor, o filme venceu o Festival de Gramado de 1975 nas categorias de Melhor Ator (Eliezer Gomes), Melhor Fotografia (Antônio Meliande) e Melhor Diretor, além de ter sido indicado para Melhor Filme.

O filme mistura horror gótico e tensões sociais ao nos apresentar uma moça (vivida por Selma Egrei) que vai passar um fim de semana em Petrópolis para trabalhar numa mansão como babá de duas crianças cujos pais viajaram. Estranhamente, começa a receber insistentes telefonemas anônimos, que a deixam aterrorizada.

AS FILHAS DO FOGO (1978, dirigido por Walter Hugo Khouri)

Ana, uma estudante que mora em São Paulo vai a Gramado, no sul do Brasil, para visitar uma amiga, Diana. Elas conhecem Dagmar, uma estranha mulher envolvida com parapsicologia e que realiza estranhas experiências para captar vozes de pessoas mortas.

O filme tem roteiro e direção de Walter Hugo Khouri e conta com um grande elenco feminino formado por Paola Morra, Karin Rodrigues, Maria Luiza Garcia Rosa, Rosina Malbouisson e Selma Egrei.

ENIGMA PARA DEMÔNIOS (1975, dirigido por Carlos Hugo Christensen)

Com roteiro e direção de Carlos Hugo Christensen, o filme é baseado no conto Flor, Telefone, Moça, de Carlos Drummond de Andrade. Venceu o Prêmio APCA 1977 na categoria de melhor fotografia (Antônio Gonçalves) e marcou a estreia do ator José Mayer no cinema. O elenco também conta com Monique Lafond, Mário Brasini, Lícia Magna e Rodolfo Arena.

Jovem órfã que vivia em Buenos Aires vai morar com os tios em Ouro Preto, para tomar posse da sua herança. Ao visitar o cemitério onde a mãe foi enterrada, leva uma flor de um dos túmulos. A partir desse dia, ela começa a receber estranhos telefonemas ameaçadores.

A MULHER DO DESEJO (A CASA DAS SOMBRAS) (1977, dirigido por Carlos Hugo Christensen)

Produzido, escrito e dirigido por Carlos Hugo Christensen, essa outra pérola do terror nacional foi premiada como Melhor Filme no Festival de Cabo Frio, 1975 – RJ. O diretor prometeu concluir sua trilogia de terror, iniciada em Enigma para Demônios, no filme seguinte, mas infelizmente nunca o produziu (é válido mencionar que ambos os filmes possuem histórias completamente independentes uma do outra, não sendo de forma alguma um empecilho para o espectador).

Na trama, Osmar (José Mayer) , um velho rico e solitário, deixa em testamento sua mansão em Ouro Preto e outros bens ao sobrinho Marcelo (José Mayer) e sua jovem esposa Sônia (Vera Farjado), que conheceu apenas pela foto de casamento. O casal se muda para o casarão e encontra um sombrio mordomo que o testamento proíbe dispensar. Fatos estranhos começam a acontecer, a casa parece adquiri vida própria e Marcelo começa a se assimilar com o tio morto.

ZOMBIO 2 – CHIMARRÃO ZOMBIES (2013, dirigido por Petter Baiestorf)

Expoente do gore nacional com influências diretas de diretores como John Waters, George Kuchar, Koji Wakamatsu, Dusan Makavejev, Christoph Schlingensief e José Mojica Marins. No ano de 1988, Petter Baiestorf começou a colaborar em fanzines com contos, roteiros de quadrinhos e poesias.

Em 1992 fundou a Canibal Filmes (que na época se chamava Canibal Produções) com a ideia de editar seus próprios fanzines e fazer filmes, usando qualquer suporte para o registro das imagens. Com colaboração de Coffin Souza e do Grupo Canibal, criou a estética do Kanibaru Sinema (filmes filmados em qualquer formato com orçamento zero), tema do livro Manifesto Canibal, escrito por ele e por Cesar Sousa.

Desde 1993, diretor já realizou mais de 100 filmes, entre curtas-metragens, médias-metragens e longas-metragens. O cineasta catarinense transgrediu a linguagem do cinema brasileiro ao realizar filmes transgressores, experimentais, anárquicos, políticos, com muito sexo, sangue e escatologia.

No ano de 2013 realizou a produção de seu longa-metragem mais conhecido, “Zombio 2 – Chimarrão Zombies”, uma gorechanchada que teve exibições em Sitges, FantasPoa, Montevídeo Fantástico, Rojo Sangre e muitos outros importantes festivais de cinema fantástico ao redor do mundo.

Na trama, Zumbis, zumboas, recém-falecidos e mais uma gama de coloridos mortos-vivos melequentos tomam conta da região rural do Oeste de Santa Catarina e vísceras rolam ao doce sabor da erva-doce Cronenberg. Mas os zumbis, neste caso, são o menor dos problemas quando a fauna humana se revela em sua plenitude sádica e egoísta.

MANGUE NEGRO (2008, dirigido por Rodrigo Aragão)

O filme Mangue Negro marcou a estreia do diretor independente Rodrigo Aragão e sua produtora Fábulas Negras. Os efeitos especiais e as maquiagens de dos filmes sempre são feitas pelo próprio diretor, que se tornou uma grande referência no cinema nacional e independente. Em uma entrevista, ele afirmou que foi autodidata e aprendeu as técnicas através de repetidas tentativas e assistindo a filmes e making of de outros filmes. O resultado lhe valeu o prêmio de efeitos especiais e direção em vários festivais. O filme recebeu o “Prêmio Audiência do Rojo Sangre“, na Argentina, e fez parte da seleção oficial do “Sci Fi London“, na Inglaterra.

Em uma comunidade muito pobre de um manguezal brasileiro surgem inexplicavelmente zumbis canibais, e assim tem início uma onda de massacres.

O CEMITÉRIO DAS ALMAS PERDIDAS (2020, dirigido por Rodrigo Aragão)

Corrompido pelo poder do livro negro de Cipriano, um jesuíta e seus seguidores iniciam um reinado de terror no Brasil colonial, até serem amaldiçoados a viverem eternamente presos sob os túmulos de um cemitério.

O filme mais recente de Rodrigo Aragão lançou um dos vilões mais icônicos do cinema de horror, Cipriano, interpretado magistralmente pelo ator Renato Chocair. O diretor já expressou o desejo de contar novas histórias do personagem, seja em filmes ou numa série de TV.

O NÓ DO DIABO (2018, vários diretores)

Dirigido por Ramon Porto Mota, Ian Abé, Gabriel Martins e Jhésus Tribuzi, traz cinco contos de horror com histórias que se entrelaçam. Conta com Zezé Motta, Isabél Zuaa, Fernando Teixeira e outros no elenco. Venceu o Festival de Cinema de Brasília 2017 na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Alexandre De Sena).

Na trama, dois séculos atrás, durante a escravidão, uma fazenda canavieira era palco de horrores. Anos depois, o passado cruel permanece marcado nas paredes do local e eventos estranhos começam a acontecer.

TRABALHAR CANSA (2011, Marco Dutra e Juliana Rojas)

Marco Dutra e Juliana Rojas formam uma das duplas mais interessantes do terror nacional, brilhando também em trabalhos solos.

Helena (Helena Albergaria) é uma dona de casa que resolve abrir um minimercado. Tudo vai bem até Otávio (Marat Descartes), seu marido, perder o emprego. A partir de então estranhos acontecimentos tomam conta do local, afetando o relacionamento do casal com a empregada doméstica.

MEDUSA (2023, dirigido por Anita Rocha da Silveira)

Dirigido e escrito por Anita Rocha da Silveira, o filme é protagonizado por Mariana Oliveira e é inspirado no mito de Medusa para narrar a história de um grupo de jovens mulheres que fazem de tudo para manter as aparências de mulheres perfeitas, submetendo-se a um regime de opressão. O elenco secundário é composto por Lara Tremouroux, Joana Medeiros, Felipe Frazão, Thiago Fragoso e Bruna Linzmeyer.

Há muitas eras atrás, uma lenda surgiu e ainda é contada na sociedade, a história de Medusa. Ela foi sacerdotisa da deusa virgem Atena, mas foi violentada por Poseidon em seu local de oração e devoção. Como punição, Atena transformou seus cabelos em cobras e qualquer homem que olhasse para ela seria transformado em pedra. Hoje em dia, o mito ainda é amplamente conhecido. Mariana (Mariana Oliveira) é uma jovem que se esforça ao máximo para manter a aparência de ser a mulher perfeita. Ela e suas amigas farão tudo o que estiver ao seu alcance para controlar tudo e todos ao seu redor e resistir à tentação, mas a vontade de gritar torna-se cada vez mais forte

RAQUEL 1:1 (2023, dirigido por Mariana Bastos)

Com roteiro e direção de Mariana Bastos e estrelado por Valentina Herszage, o filme acompanha a mudança de uma jovem religiosa para uma cidade de interior, onde ela passa a ter experiências espirituais que a fazem questionar sobre sua visão de mundo. O elenco ainda conta com Emílio de Mello, Ravel Andrade, Eduarda Samara e Priscila Bittencourt.

O filme teve uma boa repercussão durante sua passagem por festivais de cinema internacionais e nacionais, sendo o roteiro, critérios técnicos e a atuação de Valentina Herszage os pontos mais destacados pela crítica especializada. Foi considerado como um “suspense não convencional”, o qual entretém ao mesmo tempo que provoca reflexões.

No filme Raquel 1:1, Raquel (Valentina Herszage) é uma adolescente religiosa que retorna à pequena cidade do interior onde nasceu, em busca de uma nova vida ao lado de seu pai. Logo nos primeiros dias de sua chegada, ela vivencia um acontecimento misterioso, que a jovem interpreta como um chamado para embarcar em uma missão controversa relacionada à Bíblia. Ao lado de suas novas amigas – um grupo de garotas evangélicas da igreja local – Raquel se aprofunda em sua espiritualidade, mas nesse processo acaba revisitando traumas do passado. Em meio a uma espiral de fé, razão e loucura, a jovem tenta encontrar a si mesma, contando com o apoio de alguns e a reprovação de outros.

4 comentários sobre “125 anos de Cinema Brasileiro: 12 filmes nacionais de terror

    1. Muito obrigado pelo comentário, Marie! Que bom que você gostou. Realmente, só tem preciosidades aí. Faltaram muitos ótimos filmes de horror nacional nessa lista. Dá para fazer tranquilamente umas Partes 2, 3, 4…. rsrs

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  1. Pingback: Escuro Medo

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